No ano de 1964 foi inaugurado, na Cidade do México, o Museu Nacional de Antropologia, que desde o Congresso de Americanistas de 1910 vinha sendo uma promessa. Originalmente o museu estava instalado na antiga Casa da Moeda até que se decidiu criar um refúgio cultural que, nas palavras do presidente de então, Adolfo López Mateos, deveria ser um lugar em que "os mexicanos, ao sair dele, ficassem orgulhosos de sua nacionalidade". Foi então que, utilizando um terreno triangular e desmatado pertencente ao Ministério de Comunicações e localizado nas margens do Bosque de Chapultepec, decidiu-se que era hora de iniciar o projeto.
Pedro Ramírez Vázquez foi o encarregado de concretizar essa proeza, a qual tinha a voraz pressão do tempo de execução. Ele, em sua abordagem, considerava que o ritmo do museu deveria afastar-se do padrão europeu de grandes galerias e corredores que acabam por oprimir o espectador e, em mudança, queria tornar o projeto uma experiência rítmica. Ramírez Vázquez sentia que, uma vez que o o museu abordava a herança e a história mexicana, este deveria começar sua poética desde essa mesma herança. Então, baseando-se na configuração do Cuadrángulo de las Monjas en Uxmal, decidiu criar uma sequência de volumes ao redor de um pátio no qual cada volume tivesse autonomia do outro e que, por sua vez, formasse uma conexão do percurso como as contas de um colar.
Para resolver a implantação dando protagonismo à área natural, Ramírez Vázquez decidiu utilizar 45.000 metros quadrados (dos quais 30.000 são áreas de exposição e o restante, áreas de apoio) dos 125.000 m² do total do terreno, projetando uma esplanada de acolhimento que conectaria o museu ao bosque e permitiria no nível mais baixo desta localizar os estacionamentos e guarda-volumes. A esplanada está conectada tanto ao nível superior como ao térreo com o primeiro volume de acolhimento onde se localiza não somente a recepção, mas diversos equipamentos de pesquisa, aulas e ateliês. Isto nasceu sob a responsabilidade do museu em oferecer serviços de educação, pesquisa e restauro à comunidade, para não serem vistos como uma atração turística, convertendo-o mais em um centro educativo do que em um museu turístico.
Uma vez que se entra no edifício chega-se ao pátio central cujo caráter protagonista enfoca uma enorme cobertura. O arquiteto buscava criar um pátio central, mas, por sua vez, queria uma proteção contra as chuvas, para que os visitantes pudessem passar de uma sala à outra sem molharem-se. Nas palavras do arquiteto, ele decidiu que uma forma "infantil" para resolver o pátio com um grande "guarda-chuvas" de 52 x 82 metros. Esse elemento constitui-se por uma cobertura tensionada desde um mastro central que atua como um totem, solto de quaisquer bordas dos outros volumes, um ícone lúdico ao incluir uma queda de água no perímetro do mastro. No espaço restante do pátio, descoberto, projeta-se um jardim aquático que funciona como um detalhe paisagístico na configuração volumétrica.
No pátio central, pode-se apreciar os volumes independentes que abrigam cada uma das salas de exposição. Como dito anteriormente, o percurso é planejado para ser feito em cada volume de forma independente, e assim, retornar ao pátio. Dessa forma, Ramírez Vázquez desenha um museu que induz o visitante a instância de respiro ao sair de qualquer volume antes de continuar o trajeto. Entre as dilatações, ou melhor, entre os espaços restantes de cada sala de exposição, pode-se ver um tratamento paisagístico do jardim que invoca, de maneira permeável, a indução do bosque no edifício.
Cada volume apresenta uma fachada configurada com uma pele metálica, feita com uma malha que protege da luz direta e, ao mesmo tempo, cria um efeito cinético ao caminhar para a entrada dos mesmos. No interior, a estratégia projetual, com foco no ritmo da exposição, torna-se evidente com a distinção dos dois pavimentos de cada volume, dividindo-se entre Etnologia e Antropologia, criando uma separação clara entre as áreas.
No processo construtivo apresentou um desafio nos cronogramas de obra, já que o tempo para inaugurar o museu era escasso e a própria museologia apresentava desafios de instalação e montagem (somente a Pedra do Sol é um monolito que pesa 24 toneladas) que deveria ser iniciada quando as salas estivessem prontas. Inclusive, muitas das peças da exibição etnológica foram instaladas e feitas por indígenas trazidas desde as comunidades para que construíssem os habitats tradicionais diretamente no museu. Sendo assim, Ramírez Vázquez decidiu separar em duas técnicas de construção aplicadas, tendo por um lado, a construção em estrutura metálica e, por outro o concreto. Isso para acelerar a construção das salas de exposições estratégicas, como a Sala Mexica e entregá-la à museologia para montagem dedicando tempo e calma para outras partes do museu.
O edifício abriu suas portas em 17 de setembro de 1964 sendo um sucesso na Cidade do México, com recordes de visitas, chegando às 25.000 pessoas em um domingo. Numerosas instituições educativas assim como cidadãos e turistas vão anualmente ao Museu, considerado como um dos melhores em sua classe, a nível mundial. Quase todos os visitantes ressaltam o valor arquitetônico que o museu representa e como seu projeto exalta em sua volumetria a herança histórica que grandes civilizações, como a maia ou a asteca, deixaram no país.
-
Arquitetos: Jorge Campuzano, Pedro Ramírez Vázquez, Rafael Mijares; Pedro Ramírez Vázquez, Rafael Mijares, Jorge Campuzano
- Área: 45000 m²
- Ano: 1964
-
Fotografias:Dan Gamboa Bohórquez